Pré-Modernismo e Vanguardas Europeias: Exercícios Resolvidos

1. (UFRRJ) Fragmento de Triste fim de Policarpo Quaresma
“Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro. Não fora o amor comum, palrador e vazio; fora um sentimento sério, grave e absorvente. ( … ) o que o patriotismo o fez pensar, foi num conhecimento inteiro de Brasil. ( … ) Não se sabia bem onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer regionalismo: Quaresma era antes de tudo brasileiro.”
(BARRETO, Lima. “Triste fim de Policarpo Quaresma”. São Paulo: Scipione, 1997.)

Este fragmento de “Triste Fim de Policarpo Quaresma” ilustra uma das características mais marcantes do Pré-Modernismo que é o:
a) Desejo de compreender a complexa realidade nacional.
b) nacionalismo ufanista e exagerado, herdado do Romantismo.
c) resgate de padrões estéticos e metafísicos do Simbolismo.
d) nacionalismo utópico e exagerado, herdado do Parnasianismo.
e) subjetivismo poético, tão bem representado pelo protagonista.

2. (PUC-RS) Para responder à questão, leia o fragmento do conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato.
“Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
…………………………………………………………………………………………………….
E tudo se esvaiu em trevas.
Depois, vala comum. A terra papou com indiferença aquela carnezinha de terceira – uma miséria, trinta quilos mal pesados…
E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas.
– “Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca? ”
Outra de saudade, no nó dos dedos de dona Inácia.
– “Como era boa para um cocre!…”
……………………………………………………………………………………………………

Considerando o fragmento anterior, é correto afirmar:

a) Em “Negrinha”, conto-título de livro de Monteiro Lobato, editado em 1920, o autor apresenta, de forma crítica e mordaz, o tratamento cruel a que é submetida a pequena escrava, maltratada até a morte.
b) Para o pré-modernista Monteiro Lobato, a infância é um período a ser celebrado pela alegria e vontade de viver, tema que anima o conto “Negrinha”.
c) Como escritor romântico, Monteiro Lobato cria a personagem Negrinha como aquela que dá alegrias a Dona Inácia, sua patroa, por estar sempre a seu lado.
d) Negrinha é uma das personagens mais marcantes da literatura infantil de Monteiro Lobato, o autor que inaugurou o gênero no Brasil.
e) No conto “Negrinha”, Monteiro Lobato relembra uma pequena companheira de infância, vizinha das terras de seu avô.

3. (ENEM) Psicologia de um vencido
“Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!”
(ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. )

A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de  transição designada como pré-modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se  marcas dessa literatura de  transição,  como:
a) a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas, o vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo.
b) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas como “Monstro de escuridão e rutilância” e “Influência má  dos  signos do zodíaco”.
c) a seleção lexical emprestada do cientificismo, como se lê em “carbono e amoníaco”, “epigênesis da infância”, “frialdade inorgânica”, que restitui a visão naturalista do homem.
d) a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo, dimensionada pela inovação  na expressividade poética e o desconcerto existencial.
e) a ênfase no processo de construção de  uma poesia descritiva e ao mesmo  tempo filosófica, que incorpora  valores  morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas.

GABARITO
1. A

Comentário: No trecho da obra de Lima Barreto, devemos depreender o caráter nacionalista de seu personagem e observar a dificuldade de “enquadrá-lo” em uma categoria a partir de aspectos regionais, neste sentido, o autor visa avaliar o que é ser brasileiro, o que confirma a letra A. As alternativas B, C, D e E estão incorretas, pois embora o pré-modernismo seja um período de transição entre movimentos ao final do século XIX e a escola modernista, não apresenta traços românticos e, no trecho em destaque, não há relação com o campo da transcendência, muito abordado no Simbolismo. Além disso, na letra D, o movimento Parnasiano se desvincula de referências do contexto social e histórico, sendo um movimento mais voltado para a própria arte e, na letra E, o trecho não apresenta uma linguagem subjetivada.


2. A

Comentário: No conto “Negrinha”, o autor Monteiro Lobato relata a dolorosa relação da menina com sua patroa e a presença de uma visão determinista, advinda do movimento naturalista durante o século XIX, o que confirma a letra A. A alternativa B está incorreta, pois o narrador descreve os maus tratos que a menina sofreu durante a infância, além disso, Monteiro Lobato não é um escritor romântico e, sim, pré-modernista, o que também torna a letra C incorreta. As letras D e E também  contém erros, pois Monteiro Lobato possuía um vasto número de obras e uns de seus personagens que mais marcaram foi o interiorano Jeca Tatu. Ademais, Negrinha é uma personagem fictícia.


3. D

Comentário: O poema mantém a forma clássica do soneto e a presença de características de movimentos anteriores, como o parnasianismo e o simbolismo, dessa maneira, tornam as alternativas A, B e C incorretas, visto que o enunciado expressa que deseja encontrar marcas da literatura desse período de transição, ou seja, traços desse sincretismo literário produzido naquele momento, a partir do contraste das escolas ao final do século XIX e a mudança que seria provinda do movimento modernista. A alternativa D é a única que marca esse conjunto de características nesse momento de mudanças, pois une o Parnasianismo (culto à forma), Simbolismo (subjetividade e expressionismo), ligadas ao desconcerto existencial do eu lírico e novidades nos recursos poéticos. Já na alternativa E, não há a referência à incorporação de valores morais na obra de Augusto dos Anjos.

Questões do ENEM sobre Pré-Modernismo

1-) TEXTO I

Versos de amor

A um poeta erótico Oposto ideal ao meu ideal conservas. Diverso é, pois, o ponto outro de vista Consoante o qual, observo o amor, do egoísta Modo de ver, consoante o qual, o observas. Porque o amor, tal como eu o estou amando, É Espírito, é éter, é substância fluida, É assim como o ar que a gente pega e cuida, Cuida, entretanto, não o estar pegando! É a transubstanciação de instintos rudes, Imponderabilíssima, e impalpável, Que anda acima da carne miserável Como anda a garça acima dos açudes! 
ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996 (fragmento).

TEXTO II

Arte de amar Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.

A alma é que estraga o amor. Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma. Só em Deus — ou fora do mundo. As almas são incomunicáveis. Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993

Os Textos I e II apresentam diferentes pontos de vista sobre o tema amor. Apesar disso, ambos definem esse sentimento a partir da oposição entre

a) satisfação e insatisfação.
b) egoísmo e generosidade.
c) felicidade e sofrimento.
d) corpo e espírito.
e) ideal e real.

2-) Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênesis da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.


Profundíssimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância…

Sobe–me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.


Já o verme este operário das ruínas —

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,


Anda a espreitar meus olhos para roê–los,

E há de deixar–me apenas os cabelos,

Na frialdade ignorância da terra!

ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como pré–modernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam–se marcas dessa literatura de transição, como

a) a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas e o vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo.
b) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas como “Monstro de escuridão e relutância" e “influência má dos signos do zodíaco".
c) a seleção lexical emprestada ao cientificismo, como se lê em “carbono e amoníaco", “epigênesis da infância" e “frialdade ignorância", que restitui a visão naturalista do homem.
d) a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo, dimensionada pela inovação na expressividade poética, e o desconcerto existencial.
e) a ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que incorpora valores morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas.

3-) 
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado por

a) modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos.
b) Preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos
c) Superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados.
d) Nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza.
e) Antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade.

4-) Negrinha

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva.
[...]
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo essa indecência de negro igual.
LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento).

A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no contexto, pela

a) falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas.
b) receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas.
c) ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças.
d) resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto.
e) rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos.

5-) Quaresma despiu–se, lavou–se, enfiou a roupa de

casa, veio para a biblioteca, sentou–se a uma cadeira de

balanço, descansando. Estava num aposento vasto, e todo

ele era forrado de estantes de ferro. Havia perto de dez,

com quatro prateleiras, fora as pequenas com os livros de

maior tomo. Quem examinasse vagarosamente aquela

grande coleção de livros havia de espantar–se ao perceber

o espírito que presidia a sua reunião. Na ficção, havia

unicamente autores nacionais ou tidos como tais: o Bento

Teixeira, da Prosopopéia; o Gregório de Matos, o Basílio

da Gama, o Santa Rita Durão, o José de Alencar (todo), o

Macedo, o Gonçalves Dias (todo), além de muitos outros.

BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. Rio de Janeiro: Mediafashion, 2008, p. 12 (com adaptações).

No texto, o uso do artigo definido anteposto aos nomes próprios dos escritores brasileiros

a) demonstra a familiaridade e o conhecimento que o personagem tem dos autores nacionais e de suas obras.
b) consiste em um regionalismo que tem a função de caracterizar a fala pitoresca do personagem principal.
c) é uma marca da linguagem culta cuja função é enfatizar o gosto do personagem pela literatura brasileira.
d) constitui um recurso estilístico do narrador para mostrar que o personagem vem de uma classe social inferior.
e) indica o tom depreciativo com o qual o narrador se refere aos autores nacionais, reforçado pela expressão “tidos como tais".

6-) O falecimento de uma criança é um dia de festa.

Ressoam as violas na cabana dos pobres pais, jubilosos

entre as lágrimas; referve o samba turbulento; vibram nos

ares, fortes, as coplas dos desafios, enquanto, a uma

banda, entre duas velas de carnaúba, coroado de flores, o

anjinho exposto espelha, no último sorriso paralisado, a

felicidade suprema da volta para os céus, para a felicidade

eterna — que é a preocupação dominadora daquelas

almas ingênuas e primitivas.

CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. Edição comemorativa do 90.º ano do lançamento. Rio de Janeiro: Ediouro, 1992, p. 78.

Nessa descrição de costume regional, é empregada

a) variante linguística que retrata a fala típica do povo sertanejo.
b) a linguagem científica, por meio da qual o autor denuncia a realidade brasileira.
c) a modalidade coloquial da linguagem, ressaltando–se expressões que traduzem o falar de tipos humanos marginalizados.
d) linguagem literária, na modalidade padrão da língua, por meio da qual é mostrado o Brasil não–oficial dos caboclos e do sertão.
e) variedade linguística típica da fala doméstica, por meio de palavras e expressões que recriam, com realismo, a atmosfera familiar.

GABARITO

1- D
2- D
3- B
4- D
5- A
6- D


Questão do ENEM sobre vanguardas Europeias


O surrealismo configurou-se como uma das vanguardas artísticas europeias do início do século XX. René Magritte, pintor belga, apresenta elementos dessa vanguarda em suas produções. Um traço do Surrealismo presente nessa pintura é o(a)

a) justaposição de elementos díspares, observada na imagem do homem no espelho.
b) crítica ao passadismo, exposta na dupla imagem do homem olhando sempre para frente.
c) construção de perspectiva, apresentada na sobreposição de planos visuais.
d) processo de automatismo, indicado na repetição da imagem do homem.
e) procedimento de colagem, identificado no reflexo do livro no espelho.

GABARITO

1- A


Questão do ENEM sobre Modernismo: Primeira fase


1-) Descobrimento

Abancado à escrivaninha em São Paulo

Na minha casa da rua Lopes Chaves

De sopetão senti um friúme por dentro.

Fiquei trêmulo, muito comovido

Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito

longe de mim,

Na escuridão ativa da noite que caiu,

Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos

Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,

Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu...

ANDRADE, M. Poesias completas. São Paulo: Edusp, 1987

O poema Descobrimento, de Mário de Andrade, marca a postura nacionalista manifestada pelos escritores modernistas. Recuperando o fato histórico do “descobrimento", a construção poética problematiza a representação nacional a fim de

a) resgatar o passado indígena brasileiro.
b) criticar a colonização portuguesa no Brasil.
c) defender a diversidade social e cultural brasileira.
d) promover a integração das diferentes regiões do país.
e) valorizar a Região Norte, pouco conhecida pelos brasileiros.

2-) O peru de Natal O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de consequências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, devido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades materiais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres.
ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000 (fragmento).

No fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom confessional do narrador em primeira pessoa revela uma concepção das relações humanas marcada por

a) distanciamento de estados de espírito acentuado pelo papel das gerações.
b) relevância dos festejos religiosos em família na sociedade moderna.
c) preocupação econômica em uma sociedade urbana em crise.
d) consumo de bens materiais por parte de jovens, adultos e idosos.
e) pesar e reação de luto diante da morte de um familiar querido.

3-) Camelôs

Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:

O que vende balõezinhos de cor

O macaquinho que trepa no coqueiro

O cachorrinho que bate com o rabo

Os homenzinhos que jogam boxe

A perereca verde que de repente dá um pulo que

engraçado

E as canetinhas –tinteiro que jamais escreverão coisa alguma.


Alegria das calçadas

Uns falam pelos cotovelos:

– “O cavalheiro chega em casa e diz: Meu filho, vai

Buscar um

Pedaço de banana para eu ascender o charuto.

Naturalmente o menino pensará: Papai está malu..."


Outros, coitados, têm a língua atada.


Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino ingênuo de

demiurgos de inutilidades.

E ensinaram no tumulto das ruas os mitos heroicos da

Meninice...

E dão aos homens que passam preocupados ou tristes

uma lição de infância.

Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque

a) realiza um inventário dos elementos lúdicos–tradicionais da criança brasileira.
b) promove uma reflexão sobre a realidade de pobreza dos centros urbanos.
c) traduz em linguagem lírica o mosaico de elementos de significação corriqueira.
d) introduz a interlocução como mecanismo d construção de uma poética nova.
e) constata a condição melancólica dos homens distantes da simplicidade infantil.

4-) — Adiante... Adiante... Não pares... Eu vejo. Canaã! Canaã! Mas o horizonte da planície se estendia pelo seio da noite e se confundia com os céus. Milkau não sabia para onde o impulso os levava: era o desconhecido que os atraía com a poderosa e magnética força da Ilusão. Começava a sentir a angustiada sensação de uma corrida no Infinito... — Canaã! Canaã!... suplicava ele em pensamento, pedindo à noite que lhe revelasse a estrada da Promissão. E tudo era silêncio, e mistério... Corriam... corriam. E o mundo parecia sem fim, e a terra do Amor mergulhada, sumida na névoa incomensurável... E Milkau, num sofrimento devorador, ia vendo que tudo era o mesmo; horas e horas, fatigados de voar, e nada variava, e nada lhe aparecia... Corriam... corriam... 
ARANHA, G. Canaã. São Paulo: Ática, 1998 (fragmento).

O sonho da terra prometida revela-se como valor humano que faz parte do imaginário literário brasileiro desde a chegada dos portugueses. Ao descrever a situação final das personagens Milkau e Maria, Graça Aranha resgata esse desejo por meio de uma perspectiva

a) subjetiva, pois valoriza a visão exótica da pátria brasileira.
b) simbólica, pois descreve o amor de um estrangeiro pelo Brasil.
c) idealizada, pois relata o sonho de uma pátria acolhedora de todos.
d) realista, pois traz dados de uma terra geograficamente situada.
e) crítica, pois retrata o desespero de quem não alcançou sua terra.

GABARITO

1- C
2- A
3- C
4- E

Questão do ENEM sobre Modernismo: Segunda fase: Poesia



1-) Do amor à pátria

São doces os caminhos que levam de volta à pátria.

Não à pátria amada de verdes mares bravios, a mirar em

berço esplêndido o esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a

uma outra mais íntima, pacífica e habitual - uma cuja

terra se comeu em criança, uma onde se foi menino

ansioso por crescer, uma onde se cresceu em sofrimentos

e esperanças plantando canções, amores e filhos ao

sabor das estações.

MORAES, V. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987

O nacionalismo constitui tema recorrente na literatura romântica e na modernista. No trecho, a representação da pátria ganha contornos peculiares porque

a) o amor àquilo que a pátria oferece é grandioso e eloquente.
b) os elementos valorizados são intimistas e de dimensão subjetiva.
c) o olhar sobre a pátria é ingênuo e comprometido pela inércia.
d) o patriotismo literário tradicional é subvertido e motivo de ironia.
e) a natureza é determinante na percepção do valor da pátria.

2-) TEXTO I

Poema de sete faces

Mundo mundo vasto mundo,

Se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2001 (fragmento).


TEXTO II

CDA (imitado)

Ó vida, triste vida!

Se eu me chamasse Aparecida

dava na mesma.

FONTELA, O. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

Orides Fontela intitula seu poema CDA, sigla de Carlos Drummond de Andrade, e entre parênteses indica “imitado" porque, como nos versos de Drummond,

a) apresenta o receio de colocar os dramas pessoais no mundo vasto.
b) expõe o egocentrismo de sentir o coração maior que o mundo.
c) aponta a insuficiência da poesia para solucionar os problemas da vida.
d) adota tom melancólico para evidenciar a desesperança com a vida.
e) invoca a tristeza da vida para potencializar a ineficácia da rima.

3-) Seca d'água

É triste para o Nordeste

o que a natureza fez

mandou 5 anos de seca

uma chuva em cada mês

e agora, em 85

mandou tudo de vez.


A sorte do nordestino

é mesmo de fazer dó

seca sem chuva é ruim

mas seca d'água é pior.


Quando chove brandamente

depressa nasce o capim

dá milho, arroz, feijão

mandioca e amendoim

mas como em 85

até o sapo achou ruim.

[...]

Meus senhores governantes

da nossa grande nação

o flagelo das enchentes

é de cortar o coração

muitas famílias vivendo

sem lar, sem roupa e sem pão.

ASSARÉ, Patativa do. Digo e não peço segredo. São Paulo: Escritura, 2001, p. 117–118.

Esse é um fragmento do poema Seca d'água, do poeta popular Patativa do Assaré. Nesse fragmento, a relação entre o texto poético e o contexto social se verifica

a) por meio de metáforas complexas, ao gosto da tradição poética popular.
b) de maneira idealizada, deturpando a realidade pela sua formulação amena e cômica.
c) de forma direta e simples, que dispensa o uso de recursos literários, como rimas e figurações.
d) de modo explícito, mediada por oposições, como a apresentada no título.
e) na preocupação maior com a beleza da forma poética que com a representação da realidade do Nordeste.

4-) 

Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a

a) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem.
b) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos.
c) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica.
d) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo.
e) prosopopeia, que consiste em personificar coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.

GABARITO

1- B
2- C
3- D
4- C

Questão do ENEM sobre Modernismo: Segunda fase: Prosa

1-) Antiode
Poesia, não será esse
o sentido em que
ainda te escrevo:
flor! Te escrevo:
disfarçados urinóis).
Flor é a palavra
flor; verso inscrito
no verso, como as
manhãs no tempo.
Flor é o salto
da ave para o voo:
o salto fora do sono
quando seu tecido
se rompe; é uma explosão
posta a funcionar,
como uma máquina,
uma jarra de flores.
MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).

A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de
 a) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
 b) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
 c) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
 d) uma máquina, levando em consideração a relevância do discuros técnico-científico pós-Revolução Industrial
 e) um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.

2-) Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: - Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-d‘angola, como todo mundo faz? - Quero criar não... - me deu resposta: - Eu gosto muito de mudar... [...] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. [...] Essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.
ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).

Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador

a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.
b) descreve o processo de transformação de um meeiro espécie de agregado em proprietário de terra.
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra.
d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.
e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.

3-) No decênio de 1870, Franklin Távora defendeu a tese de que no Brasil havia duas literaturas independentes dentro da mesma língua: uma do Norte e outra do Sul, regiões segundo ele muito diferentes por formação histórica, composição étnica, costumes, modismos linguísticos etc. Por isso, deu aos romances regionais que publicou o título geral de Literatura do Norte. Em nossos dias, um escritor gaúcho, Viana Moog, procurou mostrar com bastante engenho que no Brasil há, em verdade, literaturas setoriais diversas, refletindo as características locais.
CANDIDO, A. A nova narrativa. A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 2003.

Com relação à valorização, no romance regionalista brasileiro, do homem e da paisagem de determinadas regiões nacionais, sabe-se que

a) o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela temática essencialmente urbana, colocando em relevo a formação do homem por meio da mescla de características locais e dos aspectos culturais trazidos de fora pela imigração europeia.
b) José de Alencar, representante, sobretudo, do romance urbano, retrata a temática da urbanização das cidades brasileiras e das relações conflituosas entre as raças.
c) o romance do Nordeste caracteriza-se pelo acentuado realismo no uso do vocabulário, pelo temário local, expressando a vida do homem em face da natureza agreste, e assume frequentemente o ponto de vista dos menos favorecidos.
d) a literatura urbana brasileira, da qual um dos expoentes é Machado de Assis, põe em relevo a formação do homem brasileiro, o sincretismo religioso, as raízes africanas e indígenas que caracterizam o nosso povo.
e) Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes Neto e Jorge Amado são romancistas das décadas de 30 e 40 do século XX, cuja obra retrata a problemática do homem urbano em confronto com a modernização do país promovida pelo Estado Novo.

4-) A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada. (...) andava léguas e léguas a pé, de engenho a engenho, como uma edição viva das histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio. Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas. (...) Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. (...) Os rios e as florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com o Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.
(José Lins do Rego. Menino de engenho)

A cor local que a personagem velha Totonha colocava em suas histórias é ilustrada, pelo autor, na seguinte passagem:

a) “O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco".
b) “Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações".
c) “Era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio".
d) “Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva das Mil e Uma Noites".
e) “Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas".

GABARITO

1- A
2- D
3- D
4- A

Questão do ENEM sobre Modernismo: Terceira fase: Poesia


1-) Esses chopes dourados

[...]

quando a geração de meu pai

batia na minha

a minha achava que era normal

que a geração de cima

só podia educar a de baixo

batendo

quando a minha geração batia na de vocês

ainda não sabia que estava errado

mas a geração de vocês já sabia

e cresceu odiando a geração de cima

aí chegou esta hora

em que todas as gerações já sabem de tudo

e é péssimo

ter pertencido à geração do meio

tendo errado quando apanhou da de cima

e errado quando bateu na de baixo

e sabendo que apesar de amaldiçoados

éramos todos inocentes.

WANDERLEY, J. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento).

Ao expressar uma percepção de atitudes e valores situados na passagem do tempo, o eu lírico manifesta uma angústia sintetizada na

a) compreensão da efemeridade das convicções antes vistas como sólidas.
b) consciência das imperfeições aceitas na construção do senso comum.
c) revolta das novas gerações contra modelos tradicionais de educação.
d) incerteza da expectativa de mudança por parte das futuras gerações.
e) crueldade atribuída à forma de punição praticada pelos mais velhos.

2-) 
A memória é um importante recurso do patrimônio cultural de uma nação. Ela está presente nas lembranças do passado e no acervo cultural de um povo. Ao tratar o fazer poético como uma das maneiras de se guardar o que se quer, o texto


a) ressalta a importância dos estudos históricos para a construção da memória social de um povo.
b) valoriza as lembranças individuais em detrimento das narrativas populares ou coletivas.
c) reforça a capacidade da literatura em promover a subjetividade e os valores humanos.
d) destaca a importância de reservar o texto literário àqueles que possuem maior repertório cultural.
e) revela a superioridade da escrita poética como forma ideal de preservação da memória cultural.

3-) O RETIRANTE ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA REDE, AOS GRITOS DE: “Ó IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO"

— A quem estais carregando,

Irmãos das almas,

Embrulhado nessa rede?

Dizei que eu saiba.

— A um defunto de nada,

Irmão das almas,

Que há muitas horas viaja

À sua morada.

— E sabeis quem era ele,

Irmãos das almas,

Sabeis como ele se chama

Ou se chamava?

— Severino Lavrador,

Irmão das almas,

Severino Lavrador,

Mas já não lavra.

MELO NETO, J. C. Morte e vida Severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994 (fragmento).

O personagem teatral pode ser construído tanto por meio de uma tradição oral quanto escrita. A interlocução entre oralidade regional e tradição religiosa, que serve de inspiração para autores brasileiros, parte do teatro português. Dessa forma, a partir do texto lido, identificamse personagens que

a) se comportam como caricaturas religiosas do teatro regional.
b) apresentam diferentes características físicas e psicológicas.
c) incorporam elementos da tradição local em um contexto teatral.
d) estão construídos por meio de ações limitadas a um momento histórico.
e) fazem parte de uma cultura local que restringe a dimensão estética.

4-)


a) procura desconstruir a visão metafórica do amor e abandona o cuidado formal.
b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e questiona o poder da palavra.
c) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a construção do verso livre.
d) propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e propõe a simplificação verbal.
e) explora a construção da essência feminina, a partir da polissemia de “língua”, e inova o léxico.
  
GABARITO

1- B
2- C
3- C
4- E

Questão do ENEM sobre Modernismo: Terceira fase: Prosa


1-) A partida de trem

Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou

o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de

Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da

filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-

vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía

a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma

boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas

que importa? Chega-se a um certo ponto — e o que foi

não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não

pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha

que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a

subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela

se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em

movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava

que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de

costas para o caminho.

Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:

— A senhora deseja trocar de lugar comigo?

Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza,

disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo.

Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o

camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou

a mão pelo broche, Seca. Ofendida? Perguntou afinal a

Angela Pralini:

— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar

de lugar?

LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento).

A descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a)

a) comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada.
b) anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação.
c) incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes.
d) constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas.
e) sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento.

2-) Ele se aproximou e com a voz cantante de nordestino

que a emocionou, perguntou-lhe:

― E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a

passear?

― Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa,

antes que ele mudasse de ideia.

― E se me permite, qual é mesmo a sua graça?

― Macabea.

― Maca ― o quê?

― Bea, foi ela obrigada a completar.

― Me desculpe mas até parece doença, doença

de pele.

― Eu também acho esquisito mas minha mãe botou

ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se

eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada

porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser

chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas

parece que deu certo — parou um instante retomando o

fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor

― pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...

[...]

Numa das vezes em que se encontraram ela afinal

perguntou-lhe o nome.

― Olímpico de Jesus Moreira Chaves ― mentiu

ele porque tinha como sobrenome apenas o de Jesus,

sobrenome dos que não têm pai. [...]

― Eu não entendo o seu nome ― disse ela. ―

Olímpico?

Macabea fingia enorme curiosidade escondendo

dele que ela nunca entendia tudo muito bem e que isso

era assim mesmo. Mas ele, galinho de briga que era,

arrepiou-se todo com a pergunta tola e que ele não

sabia responder. Disse aborrecido:

― Eu sei mas não quero dizer!

― Não faz mal, não faz mal, não faz mal... a gente

não precisa entender o nome.

LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978 (fragmento).

Na passagem transcrita, a caracterização das personagens e o diálogo que elas estabelecem revelam alguns aspectos centrais da obra, entre os quais se destaca a

a) ênfase metalinguística nas falas dos personagens, conscientes de sua limitação linguística e discursiva.
b) relação afetiva dos personagens, por meio da qual tentam superar as dificuldades de comunicação.
c) expressividade poética dos personagens, que procuram compreender a origem de seus nomes.
d) privação da palavra, que denota um dos fatores da exclusão social vivida pelos personagens.
e) consciência dos personagens de que o fingimento é uma estratégia argumentativa de persuasão.

3-) "De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.

— Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?

— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.

— E o seu irmão Dito é o dono daqui?

— Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.

O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro. Redizia:

— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?

Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.

— Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa?

— É Mãe, e os meninos...

Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada.

O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: —Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?"

ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado em:

a) "O homem trouxe o cavalo cá bem junto."
b) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"
c) "O homem esbarrava o avanço do cavalo, (...)"
d) "Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, (...)"
e) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos"

GABARITO

1- E
2- D
3- A

Referências:

brainly.com.br
descomplica.com.br
professor.bio.br
enem.estuda.com


Postado por Cibelle Teixeira

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