Filmes Medievais

Nas luzes do cinema

Caso você queria saber mais utilizando outros métodos, selecionamos na lista abaixo, seis filmes numa contextualização medieval. Vale a pena conferir!


1.     Trono Manchado de Sangue (1957) | Akira Kurosawa



Sinopse:
Inspirado na obra Macbeth, de Willian Shakespeare, a história se passa no Japão onde Yoshiteru Miki (Akira Kubo) e Taketori Washizu (Toshirô Mifune) são os comandantes do primeiro e do segundo castelo de um reino local, cuja sede fica no Castelo das Teias de Aranha.
Após defenderem seu senhor em batalha, eles estão retornando para casa quando encontram um espírito que prediz o futuro de ambos. Ele diz que Washizu em breve assumirá o trono e que o filho de Miki, Yoshaki (Minoru Chiaki), o sucederá. Ao retornar para casa, Washizu comenta a predição com a esposa, lady Asaji (Isuzu Yamada). Ela acredita no que o espírito disse e incentiva o marido a agir quando o atual rei chega em seu castelo, para passar a noite.


Resenha:
Dentre tantas cenas marcantes, destacam-se duas: a primeira é a sequência na qual aparece o espírito da floresta que prevê o futuro do protagonista. Esta é um exemplo irrefutável do talento do diretor na composição visual. A segunda, seria a breve, mas muito interessante, cena na qual “Lady Macbeth” (Asaji) acaba de convencer seu marido a assassinar o lorde do castelo, nesse momento ela muda de peça, mergulhando na escuridão total e saindo de lá poucos segundos depois com o pote de vinho envenenado que fará os seguranças adormecerem. Cenas como essas revelam a inteligência do diretor em utilizar os recursos da imagem para reforçar elementos da história ou até dos personagens.

O instinto assassino natural, associado à traição e à ambição, é retratado brilhantemente nesse clássico do cinema oriental. Poucas narrativas foram tão honestas, ou tão eficientes, no cumprimento desse propósito. Por sinal, temos a objetividade da narrativa como o grande trunfo para passar sua mensagem. Kurosawa e Shakespeare não apostam, aqui, em histórias intrincadas e cheias de simbolismos sutis que expressam suas lições morais, mas sim numa história clara e objetiva, que expressa através da violência, e do simples desenrolar dos fatos, sua análise sobre os efeitos da ambição e da traição.


Recepção da Crítica:
Segundo o site http:// www.rottentomatoes.com, um dos mais influentes neste quesito, Trono Manchado de Sangue possui cerca de 98% de aprovação dos espectadores, assim expressando claramente a qualidade do filme em questão.

Especificações técnicas:
Direção: Akira Kurosawa
Roteiro: Hideo Oguni, Shinobu Hashimoto, Ryûzô Kikushima, Akira Kurosawa (baseado na obra de William Shakespeare).
Elenco: Toshirô Mifune, Isuzu Yamada, Takashi Shimura, Akira Kubo, Hiroshi Tachikawa, Minoru Chiaki, Takamaru Sasaki, Gen Shimizu, Kokuten Kôdô, Kichijirô Ueda
Duração: 110 min.



2.    Ivan, O Terrível (1945) | Sergei M. Eisenstein

Sinopse:

No século XVI, Ivan IV (Nikolai Tcherkassov), arquiduque de Moscou, assume o poder da Rússia declarando-se Czar. Casa-se com Anastasia (Lyudmila Tselikovskaya) e logo planeja ataques para retomar os territórios perdidos e derrotar os tártaros. Sem esquecer também dos inimigos internos, que não desistem de derrubá-lo.

Resenha:
            A cena inicial começa quando Ivan é coroado Grão-Príncipe de Moscou, levando a descontentamentos de alguns, e mais ainda quando se proclama Czar de Toda a Rússia, fato que certos embaixadores se recusam a aceitar isso.

            Tal qual clima de conspiração, o embaixador de Livônia incita o braço direito de Ivan, o Príncipe de Vladimir, Kurbsky, que o trono russo não é senão direito dele e não de Ivan. De início, Kurbsky não lhe dá ouvidos, afinal ele e Ivan são amigos desde a infância, mas depois quando Ivan casa-se com a princesa Anastasia, por intermédio de Eufrosinia sua tia, ele sente-se ultrajado com aquilo, pois ele amava Anastasia, e começa a conspirar contra o Czar.

            Nisso, na cena alegoricamente rica, cheia de ornamentos, o casamento de Ivan com a princesa Anastasia, os ricos ornamentos, bem como a riqueza dos detalhes dos talheres, das taças de metal, até mesmo da comida, com seus suntuosos gansos assados sendo levados em bandejas nos ombros dos empregados, tudo isso é lindo de se ver.
            Eis que o povo invade a cena do casamento, e um líder de um movimento campesino, de revoltosos, clama para que o czar não confie nos embaixadores e prícipes que nada mais fazem do que oprimir o povo.
     Ivan decreta então guerra a eles, um jogo perigoso por sinal, e acaba nomeando o líder do movimento camponês o chefe de sua guarda pessoal.

            Durante todo o restante da produção seguem-se cenas e atos de traição, conjuntos com batalhas da tal guerra e tragédias, tal como a morte de Anastasia. Dando-se a tudo isto, Ivan fica totalmente abalado e percebendo que estava cercado de inimigos, o czar decide abdicar e se isolar em sua casa de campo na vila de Alexandrov. Era uma tática arriscada, o Czar abdicou para enfim voltar nos braços do seu povo natal.   

Assim que o filme foi lançado, em 1944, foi um sucesso de bilheteria, e Eisenstein caiu nas graças do povo.


Curiosidades:
    
Eisenstein iniciou esse trabalho para agradar a Stálin, que era aficionado pela figura de Ivan, o Terrível, tanto que dizia ser Ivan seu "professor.


Recepção da Crítica
De acordo com http://www.rottentomatoes.com, Ivan, o Terrível possui cerca de 92% de aprovação dos usuários, sendo considerado um ótimo filme.


Especificações técnicas:

Duração: 103 min.
Origem: União Soviética
Direção: Sergei M. Eisenstein
Roteiro: Sergei M. Eisenstein
Ano: 1944




3. Rei Lear (1971) | Peter Brook





Sinopse:
Tal filme é baseado na obra de William Shakespeare, de mesmo nome, e conta a história de um velho Rei (Laurence Olivier), que é fadado à tragédia ao rejeitar sua esposa e decidir que não será mais corrupto, que não tolerará mais os caprichos de suas filhas egoístas.

Breve resenha:
Decidido a afastar-se do governo, o Rei Lear resolve dividir seu reino entre as filhas Goneril, Regan e Cordélia. Em troca, pede às filhas declarações públicas de afeto. Exasperado diante do posicionamento de Cordélia – sua preferida – e das traições cometidas pelas outras, Lear vê seu mundo ruir, enquanto, gradativamente, perde a sanidade. Em sua adaptação, o diretor Peter Brook transpõe a peça original para cenários desoladores, utilizando a linguagem cinematográfica a fim de gerar uma atmosfera lúgubre e sombria.

Recepção da Crítica:
Avaliado pelo http://www.rottentomatoes.com, Rei Lear possui cerca de 70% de aprovação do público, sendo considerado uma boa produção.



http://www.imdb.com/title/tt0067306/ Acesso em 19 de julho de 2017.



 4.    Fonte da Donzela (1960) | Ingmar Bergman


Sinopse:
Na Suécia, durante o século XIV, a população oscilava entre o cristianismo e o paganismo (representado pelas crenças nórdicas). Herr Töre (Max von Sydow) e Märeta Töre (Birgitta Valberg) formam um casal que tem uma propriedade rural, eles são cristãos fervorosos e incumbiram Karin Töre (Birgitta Pettersson), sua filha, uma adolescente de quinze anos, de levar velas para a igreja da região e acendê-las para a Virgem Maria.
No caminho da igreja Karin é estuprada e assassinada por dois pastores de cabras. Quando a noite chega, ironicamente, os criminosos vão pedir comida e abrigo para os pais de Karin. São recebidos cordialmente e Herr Töre lhes promete trabalho. Märeta está nervosa, pois a filha não retornou, mas o marido tenta tranquilizá-la dizendo que em outras ocasiões Karin dormiu na cidade. Porém o temor da mãe se concretiza quando um dos pastores, sem imaginar, quer vender uma peça de roupa de Karin para sua mãe. Ela reconhece a roupa da filha, mas diz que vai pensar e logo que pode tranca a porta e fala ao marido. Eles já têm certeza do triste destino da filha, pois a peça está suja de sangue. O casal agora, só pensa em se vingar.

Resenha:
Adaptado de uma balada sueca do século XIII, a obra trabalha em cima de temáticas como a religião – o conflito entre o chamado paganismo e o cristianismo -, inocência, moralidade e, é claro, o pecado.

Dentre suas inúmeras facetas iniciemos a jornada pela fotografia de Sven Nykvist, que teve uma prolífica carreira, assinando inúmeros projetos de Bergman. Nykvist transmite, desde os primeiros planos a nítida sensação de que uma tempestade se aproxima.  Planos longos, utilizando cortes somente quando necessários, marcam o ar de calmaria presente durante o primeiro terço do longa-metragem – sutis movimentos de câmera acompanham os personagens a fim de nos dizer que tudo ali se encontra em seu devido lugar.
Conforme caminhamos na direção do clímax da narrativa, o trabalho de Nykvist vai adotando um número maior de cortes, utilizando uma quantidade maior de planos e contra planos que visivelmente criam a tensão no espectador, nos deixando praticamente sufocados com a antecipação. Bergman conduz cada ator em cena harmonicamente, trabalhando com a simetria em quadro e o contraste entre o claro e o escuro, o sujo e o limpo a fim de tornar a cena verdadeiramente emblemática.
A surpresa, porém, a qual forma, por fim, o título do filme: a fonte da donzela dá as caras, como um milagre da divindade, até então, ausente, que agora chora perante a todos os acontecimentos anteriores.
Com um coro celestial, Ingmar Bergman encerra sua visão da balada sueca, chocando o espectador, esteja ele em 1960 ou já no século XXI. Com uma narrativa em tom crescente, o diretor nos suga para dentro de sua perfeita retratação do medieval, trazendo temáticas da época que nitidamente se traduzem para a atualidade. 


Premiações:

Festival de Cannes (1960)
·         Ingmar Bergman recebeu Menção Especial.
·         O filme foi indicado à Palma de Ouro.

Óscar (1961)
·         Venceu na categoria de melhor filme estrangeiro.
·         Indicado na categoria de melhor figurino e melhor filme em preto e branco.


Globo de Ouro (1961)
·         Venceu o prêmio Samuel Goldwyn, juntamente com La vérité, na categoria de melhor filme estrangeiro.



5. O Nome da Rosa (1986) | Jean-Jacques Annaud


Sinopse:

Estranhas mortes começam a ocorrer num mosteiro beneditino localizado na Itália durante a baixa idade média, onde as vítimas aparecem sempre com os dedos e a língua roxos. A chegada de um monge franciscano (Sean Conery), incumbido de investigar os casos, irá mostrar o verdadeiro motivo dos crimes, resultando na instalação do tribunal da santa inquisição.


Prêmios:

 Bafta
·         Melhor ator: Sean Connery - 1988
·         Melhor maquiagem: 1988

  César
·         Melhor filme estrangeiro: 1987

 Bavarian Film Awards
·         Melhor filme: 1987

  German Film Awards
·         Melhor ator: Sean Connery - 1987
·         Melhor design de produção: 1987
 

Resenha:        

A atmosfera sombria, a aparência doentia dos monges / frades, a rejeição a conceitos tidos como avançados pelos monges frequentadores do mosteiro e a abordagem à Santa Inquisição que passa a ser feita a partir da segunda metade do filme nos permitem compreender um pouco do que foi a Idade Média.
O filme retrata a história da investigação de uma série de assassinatos ocorridos em um monastério da Itália Medieval, (sete monges são mortos de maneira insólita, no período de sete dias e noites). Um monge franciscano, Willian de Baskervile, ex-inquisitor, chega ao mosteiro para participar de um conclave onde decidiriam se a Igreja doaria parte de suas riquezas; mas diante dos assassinatos desviou sua atenção e começou a investigar o caso.
Abordando a questão da ciência como caminho que leva à verdade e ao saber, e a religião como o caminho da irracionalidade e do obscuro, além de retratar um ambiente no qual as contradições e oposições, justificam as ações humanas, o filme torna-se também uma crítica do poder e do esvaziamento dos valores pela demagogia, violências sexuais (mulheres que se vendiam aos monges em troca de comida), a luta contra a mistificação e o poder.
O Nome da Rosa é uma viagem imaginária à Idade Média europeia. A oportunidade de reflexão aberta das questões filosóficas, dos conceitos de Bem e Mal, de certo e errado.



6.    O Processo de Joana d’Arc (1962) | Robert Bresson

Sinopse:
Obra-prima do francês Robert Bresson, que aqui reconstituiu a prisão, o julgamento e a execução da mártir Joana D'Arc, baseando-se exclusivamente em documentos históricos. Austero, sóbrio e revelador, Bresson recorreu a atores não profissionais para mostrar o martírio dessa figura histórica do século 15.


Prêmios:
Esse filme recebeu o prêmio especial do júri do festival de Cannes, além do prêmio do Ofício Católico e o Prêmio de Melhor Filme para Juventude.

Analise:
Utiliza poucos recursos em cenário, figurino e interpretação e trabalha incessantemente para que seus modelos usem sempre o mesmo tom de voz e quase nenhuma expressão corporal, levado o expectador a uma sensação de angústia ao esperar uma reação que não acontece. O filme é baseado nos autos do processo de Joana d'Arc, aos quais busca ser historicamente fiel. O diretor utiliza o processo para criticar o momento presente: Joana era totalmente leal à igreja do céu, mas não foi submissa ao poder da igreja militante ao defender suas convicções, e por isto foi submetida a um julgamento injusto, no qual o principal objetivo era fazê-la entrar em contradição. O filme lida com as possibilidades de ação de indivíduos comuns perante instituições maiores, que muitas vezes são injustas, mostrando que o episódio de Joana é sempre atual.


2.     O Sétimo Selo (1957) | Ingmar Bergman

Sinopse:
Após dez anos, um cavaleiro (Max Von Sydow) retorna das Cruzadas e encontra o país devastado pela peste negra. Sua fé em Deus é sensivelmente abalada e enquanto reflete sobre o significado da vida, a Morte (Bengt Ekerot) surge à sua frente querendo levá-lo, pois chegou sua hora. Objetivando ganhar tempo, convida-a para um jogo de xadrez que decidirá se ele parte com a Morte ou não. Tudo depende da sua vitória no jogo e a Morte concorda com o desafio, já que não perde nunca.



Principais prêmios e indicações:

Festival de Cannes 1957 (França):
·         Recebeu o Prêmio do Júri e foi indicado à Palma de Ouro.

Fotogramas de Plata 1962 (Espanha):
·         Venceu na categoria de Melhor Ator Estrangeiro (Max von Sydow).

Sindacato Nazionale Giornalisti Cinematografici Italiani 1961 (Itália):
·         Venceu na categoria de Melhor Diretor - Filme Estrangeiro (Ingmar Bergman).



Analise:

Ingmar Bergman conseguiu, de uma maneira aparentemente simples, discutir a busca do homem pela compreensão da vida e morte através de um viés religioso. Essa questão é trazida pelo personagem Antonius Block (Max von Sydow), um cavaleiro medieval que volta da Cruzada e encontra o seu país dizimado pela Peste Negra.
Para complicar ainda mais, a Europa vivia um período tenebroso por conta da Inquisição, que queimava hereges e sufocava representações artísticas que seria uma forma legítima de lidar com toda essa pressão. Antonius acaba recebendo a indesejável visita da Morte (Bengt Ekerot), mas, para ganhar tempo, propõe uma partida de xadrez para se manter vivo. Junto com o seu escudeiro Jöns (Gunnar Björnstrand), uma trupe de atores e um ferreiro junto com a sua volúvel esposa, o cavaleiro tentará retornar ao seu castelo e fugir da morte.
O filme acabou se tornando um marco da cultura pop, além de que é um trabalho bastante atual para discutir a repressão religiosa e a incansável busca por respostas.

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-548/  Acesso em 21 de julho de 2017.

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